Me encontre também em ...

twitter.com/cobalescas
facebook.com/leocobal
leocobal@gmail.com


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Feliz Cidades



Fim de ano. Festa, comemoração, realizações. Claro que nem todos tiveram seus projetos realizados. Muitos foram por água abaixo (vide Vila Velha e Santa Catarina). Outros tentaram, tentaram e também não completaram seu objetivo (nos jogos olímpicos aconteceu com muitos atletas). Lógico que muitos desses atletas tiveram seus feitos realizados. E muitas pessoas de outras áreas.


As eleições – aqui e nos EUA – tiveram seus altos e baixos. Vimos que o povo está cada vez mais consciente de que o voto não é coisa que se compra (ou vende). Não é barganha. É um exercício de cidadania. Mas ainda assim alguns políticos “viciados” se elegeram em seus cargos. E continuam vivendo à custa dos impostos da população. Quem sabe daqui uns 100 anos os políticos tenham consciência de que estão na vida pública para serem parceiros do povo e não para encher os próprios bolsos.


O crescimento econômico no Espírito Santo e no Brasil foi fantástico, porém me causa arrepios vendo que, mesmo com esse “poderio econômico”, pessoas sofram com a fome, com o desemprego, com a indignidade, com o preconceito, com a falta de moradia, com o moral baixo.


Acredito que 2009 trará mais alegrias do que tristezas; mais compaixão que desunião; mais avanços que atrasos; mais futuro para a nação. Altos e baixos todos devemos passar, pois a vida não é perfeita como sempre queremos. No entanto, “sonhar não custa nada, na se paga para sonhar”.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Comunidades x Cidades

Caminho. Chego 40 minutos depois. Onde estou? Talvez o paraíso! Bem! Não é o paraíso, pois não há chuveiro com água “caliente”, fogão ou geladeira. Mas esse tipo de paraíso é para quem não conhece a vida real! Sim! Queremos conforto! E quem disse que em uma comunidade indígena não há conforto?! Para os indígenas, sim! Talvez para alguns ocidentais tomar banho no rio, cozinhar à lenha, andar 1 km para buscar água potável, seja demasiado desconfortável. E se perguntam: Como conseguem, esses índios, viverem assim?

“Así és, compa!” Vivem desta maneira há séculos. Claro que com interferência do homem branco. Em algumas comunidades já há eletricidade. Em outras não. Todos se vestem com roupas da cidade. E o que os diferencia dos demais seres humanos? Sua luta! Luta diária por liberdade, dignidade, por suas terras, por sua cultura.

Estou em Bolow Ajaw, comunidade zapatista que faz parte do caracol de Morélia, Chiapas, México e vejo essa luta dia a dia. É o terceiro dia, de uma semana, e vivo/convivo com eles, aprendo sua língua (Tzeltal) e seu modo de manter suas terras. Esta comunidade, que se localiza nas Cascadas de Água Azul, conquistou suas terras em 1994, porém, somente em 2003 foi povoado por indígenas autônomos zapatistas e. ao que parece, vieram para cá por que o governo quer transformar toda esta área em ponto turístico.

Agora, estando aqui, entendo a luta. O lugar é bonito! Incrivelmente bonito! E com terrenos cultiváveis. Entendo “pues” por que o governo quer tomar essas terras, por que fazem uso de forças paramilitares para isso.

Para muitos de nós, estrangeiros de vida confortável, talvez seja uma luta sem sentido, que realmente deveriam transformar tudo em um parque eco-turístico. O que tenho a dizer é que nós, ocidentais, deveríamos estar aqui para entender que esta luta não é em vão.

São séculos de apropriação de terras, de escravidão, de mortes indígenas. Se parece muito com a luta dos negros no Brasil e, numa escala menor, a luta do MST. A diferença na terra do samba é que ao invés de revolução, fazemos carnaval.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Brigada 53

As brigadas de CAPISE consistem em fazer investigaçoes e anotaçoes sobre problemas ocorridos em comunidades zaptistas. A Brigada 53 esteve uma semana visitando cinco comunidadesque pertencem ao Caracol V, de Roberto Barrios, Chiapas, México. Nada de muito grave aconteceu nesses locais, mas o grande aprendizado que tivemos fica para o resto de nossas vidas.

Conheça um pouco mais da Brigada 53: http://br.youtube.com/watch?v=LALUDQpqeYY

--------

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Brigada 64 - Parte II




…mais um banho de rio. Mais classes de capoeira. Desta vez sabíamos que iríamos à outra comunidade e sem as “redilas” – transporte que nos levou a San Manoel, e que são como caminhonetes. Fomos caminhando para Benito Juarez. De acordo com o comppa Moises em um “ratito” estaríamos lá. Eu sempre desconfio dos “ratos” zapatistas onde meia-hora podem ser hora e meia. Foi o que se sucedeu. Caminhamos com nossas pesadas mochilas por 1h30 ate Benito, que também esta localizado no município de San Manuel.

Chegamos às 5 da tarde (hora de Deus, pois no México estamos em horário de verão). Mortos!!! Muito cansados!!! As mulheres tem uma disposição enorme, por que antes de descansarmos fomos direto a cozinha preparar a “cena” (jantar). Uma espécie de churrasqueira a lenha foi o bastante para fazermos arroz, cenouras e sardinhas. Agora sim! O bendito descanso! Para não dormirmos no chão colocamos tabuas de madeira sobre as mesas e bancos que haviam na escola (estávamos instalados na escola da comunidade). Em San Manuel nos instalaram na igreja.

Uma noite mal dormida com bois e touros batendo na porta e mosquitos, carrapatos e pulgas nos mantedo acordados. Levantamos as seis, pois às 8h ha aulas. Rearrumamos a escola e fomos tomar cafe. Mais tarde o comppa Belisario levou a mim e as danesas a um rio. Pra variar ele disse que o rio estava “cerca”, ou seja, perto. Caminhamos quase meia-hora e chegamos às margens de um rio sujo e vazio. Mas valeu a pena. Pegamos umas mangas verdes e comemos com sal.

Benito Juarez è muito pobre, quase não ha água e a unica mangueira disponivel fica aberta todo o dia (um desperdício!). As crianças não brincam muito pois, depois das aulas, tem que ajudar suas mães a abastecer suas casas com água. Passamos o resto da quarta-feira aguardando o responsavel que se chama Gerardo. As chicas estavam um pouco impacientes e eu já acostumado com o “tempo” zapatista. Por falar nisso, acredito que eles não dividem seu tempo em horas e sim, em momentos. Por exemplo: manha, tarde, noite. Então, quando dizem “ahorita”, “un ratito” ou “asi es” podem ser meia-hora ou cinco horas.

Asi fue! As 5h30 da tarde veio o comppa Gerardo com seu “tocaio” (xará) e “empezamos” a entrevista. As 6h30 estava tudo “listo” (pronto). Voltamos então ao tempo zapatista. Comemos arroz, cenouras, cebolas e atum e de sobremesa banana da terra assada. Ah! Havia tortillas com “frijol” também. Um jantar dos deuses. Tortilla è como uma massa de pastel feita de milho. È como o pão que comemos todos os dias, no entanto os mexicanos comem isso em todas as refeições. È um vicio! Tortillas e chille!

Esta noite descansamos bem e recebemos a noticia de que vamos a outra comunidade na quinta. Patria Nueva, se chama. “A mi me gusta” estar nestas comunidades zapatistas. Adquirir novas experiências. Os indígenas tem seu próprio tempo, língua, cultura e não querem perder suas terras, suas dignidade e liberdade. Querem apenas viver a sua maneira. Não è fácil explicar isso pra quem tem pensamentos ocidentais como nòs. Temos que ver, aprender e usufruir da maneira indígena zapatista de ser.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Brigada 64 - PARTE I



Sábado (19.04). Dormi as 3 para acordar as 4h30. Fomos para Ocosingo e de lá, para La Garrucha. As 6 da manha o sol estava belíssimo. Uma cor alaranjada entre neblina e nuvens. Indescritível. Chegamos ao Caracol IV por volta das 11h e, pra variar, esperamos até domingo para obter uma carta da Junto de Buen Gobierno para irmos a alguma comunidade. Como sempre, nessas horas, nao há muito o que fazer. Ler, dormir, conversar, fumar e dormir.

Para explicar melhor: eu, acompanhado de 5 mulheres, fui a uma brigada (a de número 64) reportar e informar ao Centro de Análisis Político e Investigaciones Sociales y Económicas CAPISE como estao as comunidades zapatistas, se esta havendo ameaças ou desalojo por parte de grupos paramilitares ligados a política local. O Caracol IV, de La Garrucha, mantem a Junta de Buen Gobierno que nos dá as coordenadas de qual comunidades devemos visitar.

Achei que seria chato passar tanto tempo com tantas mulheres no entanto, elas se mostraram muito solidárias e fortes (o que e imprescindível em comunidades). Eram elas: Alyne (minha esposa), Beatriz (de Espanha), Karla (de El Salvador), Zara e Laura (de Dinamarca). No Caracol ainda conheci Suli, uma espanhola que convive com os zapatistas há 3 anos. Tem uma cafeteria no local e fala Tzeltal, a lingua dos indígenas desta regiao.

Domingo, depois de algumas horas, os compas (companheiros) da junta nos enviaram a San Juan del Rio ou, como e conhecido agora, San Manoel. Nesta comunidade nos receberam bem, mas a impressao que tive e de que nao necessitavam de brigadistas neste momento. Um dia tranquilo com aulas de capoeira para os jovens indigenas, um banho no rio e uma partida de futebol. Há um mes as pessoas deste povoado assistiu a um video sobre capoeira e a todos os brasileiros que vem para ca, pedem para fazer “classes” deste esporte. Tambem sempre cantam: “Paranaue, paranaeue, Parana”. Ao entardecer fizemos a entrevista com a Assembleia da comunidade.

Nos contaram dos acontecimentos da última semana e no outro dia acompanhamos cerca de 150 homens que foram limpar 72 hectares de terra (foto).

Esta é a primeira de cinco partes.

Hasta luego.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

San Juan Chamula

Nunca estive tantas vezes em um lugar como este fim de semana. San Juan Chamula fica cerca de 10 Km de San Cristoban de Las Casas. È uma cidade turìstica que nao tem muita coisa para fazer. Hà duas igrejas (uma em ruinas e outra inteira) e artesanias indigenas. E sò! A questao è: porque vale a pena estar là? Na sexta fui porque em San Cris nao ha nada para fazer (ja havia perdido uma viagem para Guatemala) e estava muito bem acompanhado do casal espanhol Javier Rubio e Isa.

O grande segredo turistico em San Juan esta na historia religiosa do local. No entanto nao investiguei tanto este dia (somente comemos “pollo” e tomamos “cerveza” em “la calle”. Na rua, pela lei mexicana, nao e permitido beber). No sabado estava com Azul e iriamos ao Cañon del Sumidero passear de barco e fazer turismo (com o casal nota 10). Porem, nao havia vagas e fomos (eu de novo) à cidade que tem aquele segredo religioso. Desta feita descobrimos um pouco mais do “misterio” que ronda esta cidade.

Dentro da igreja inteira nao se pode tirar fotos, pois, reza a lenda indigena que, se levam imagens dos santos catolicos tambem estao levando sua alma. Perguntamos entao, em um balcao de informacoes turisticas, o porque das fotos e o rapaz disse que os indigenas temem que estrangeiros vendam este material em seu pais (ou seja, muito turistico, nao!?). So os indios podem vender seu turismo (afinal, vivem disso!).

Em seguida questionamos qual o motivo de algumas estàtuas dos santos carregarem espelhos no peito. Eu acreditava que, com nossa imagem refletida, os santos nos levariam a alma . E qual nao foi minha surpresa quando o sujeito responde: “Como (a)os indigenas neste local sao muito vaidosos(as) e tem muitos espelhos em casa, os santos deles tambem tem que ser vaidosos e portar um espelho.

Ta bom! Ta bom! Toda magia que eu pensava que que havia neste lugar caiu por terra! Afinal, nao ha nada mais a fazer nesta cidade!? Ledo engano...

Domingo regressei a este lugar com um proposito diferente do turismo: trabalhar! Fui convidado por Angel, um mexicano, para fazer seu documentario sobre San Juan Chamula. O motivo desta vez era fazer uma pesquisa investigativa para gravar no outro fim de semana.

A principio “nosostros” tivemos que esperar o padre Pedro por 2h, pois ele estava rezando uma missa para os indigenas. Agora sim, descobri novidades! Por exemplo, uma parte da populacao indigena è catòlica e outra tradicionalista. Quando ha missa a parte catolica acompanha todo o procedimento. Ja os tradicionalistas (que mantem usos e costumes indigenas) esperam o termino do evento para que seus filhos possam ser “bautizados”. Estranho, nao!!!??? Bem, atè onde investigamos o batismo è a unica tradicao da igreja catolica aceita por esses caras.

Conseguimos conversar com o padre e marcamos a entrevista para terça. Soubemos que ele nao reza missa todo fim de semana, pois os tradicionais nao gostam, e lhe fizemos esta pergunta. Creio que ele anda muito com o cara do turismo, ja que a resposta foi muito coloquial: “ Rezo missa em muitas comunidades, por isso nao venho todo fim de semana”. Quando olhamos dentro dos olhos das pessoas sentimos respostas muito vagas nesta comunidade...

Comemos e fomos para Tres Cruces, povoado muito cercano de San Juan (4km). Chegamos a casa de Candelario Heredia Hernandez, um dos presos politicos libertados, depoi s de 5 anos e 63 dias. O documentario de Angel tambem vai tratar deste assunto pois, alem de Candelario, outras 4 pessoas desta comunidade estavam encarceradas: Mariano (pai de Candelario); Pascual (irmao); Zacario Hernandez Hernandes (o preso que iniciou a greve de fome, em 23 de fevereiro deste ano, e vizinho da familia acima) e seu irmao Enrique.

Eles foram detidos por que os caciques religiosos locais nao gostaram da ideia desta familia construir sua propria igreja (todos os injustamente detidos sao indigenas catolicos). Estes “cacicazguos” com ajuda da Policia Sectorial, da Agencia Estatal de Investigacoes, da Policia Municipal de Chamula e civis armaram um esquema para, ao mesmo tempo, destruir a nova igreja e incriminar a esta familia. Dois dias antes 2 pessoas foram mortas na estrada de Tres Cruces e esta gente acusou a Pascual e a Enrique.

No dia 28 de janeiro de 2003, a noite, varios destes policiais e civis entraram no terreno da familia Heredia Hernandez e atiraram, invadiram as casas e destruiram a igreja. Neste intento 5 pessoas foram mortas (entre eles o irmao mais novo de Pascual e Candelario, Guilhermo) e, desta feita, acusaram injustamente Candelario, Mariano, Pascual, Enrique e Zacario. “Como poderia eu matar meu proprio irmao!”, exclama o recem libertado Candelario Herendia.

O questao politica aqui no Mexico è muito forte em todas as partes e, por causa de uma “afronta” ao poder politico-economico local, cinco pessoas sao acusadas de homicidio, sem testemunhas, e mofam na cadeia por mais de cinco anos. A justica nao faz nada. A populacao nao faz nada (somente a familia dos presos). O governo se finge de morto e as pessoas tem que viver de fè. Alias, este foi o motivo que manteve estes homens religiosos de pè, depois de quase 40 dias em greve de fome.

A gravacao do documentario comeca esta semana (15.04).

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Greve de fome


A semana passada foi muitissimo corrida. Passamos quase todo o tempo metidos em atividades em apoio aos presos politicos em greve de fome. A comecar por uma reuniao longa e dramatica na segunda, dia 31 de marco, da qual tiramos comissoes para trabalhar intensivamente nesta que seria a semana decisiva, durante a qual muitos companheiros e companheiras de luta iam comecar a morrer. Nós do coletivo "Casa de la Paz" integramos a comissao de açao, cuja responsabilidade mais urgente seria confeccionar caixoes e faixas para fazermos uma grande manifestaçao na quinta seguinte.


A discussao foi quente, emocionante e entrecortada por uma transmissao em tempo real da fala do portavoz do Governo Juan Sabines, onde liberava 137 presos politicos, entre eles 20 dos nossos 37, que estavam em greve de fome ha mais de um mes. Assim que voces podem imaginar o golpe que foi essa atitude sobre nossa mobilizacao… o governo liberou alguns de nossos presos junto com outros presos pertencentes a organizacoes paramilitares (entre elas, gente que integra um grupo chamado Paz y Justicia – que atormenta muitissimo a vida dos zapatistas – e pessoas envolvidas no massacre de Acteal, de 1997, onde 45 indigenas foram assassinados, a maior parte dos quais, crianças e mulheres, algunas delas gravidas). Trata-se de uma suspeita fortísima de importantes organizacoes de direitos humanos aquí de Chiapas, confirmada pelo fato de que o Governo nao quer divulgar a lista completa dos liberados.

Por outro lado, dos nossos presos, o governo libertou justamente aqueles que eram os lideres, por assim dizer. Ou seja, embora estivessem muito debilitados, eram as pessoas que mais davam força moral para os demais, eram os que mais falavam, aqueles que desenvolviam estrategias para golpear o Governo.

Ademais, os argumentos estatais para nao soltar os 17 que continuam presos é que ha testemunhas oculares contra eles e que haviam confessado seus supostos crimes (denuncia-se que foram obtidas por meio de tortura). Bem, se sao culpados ou nao, e para argumentar apenas dentro do ambito do direito, o fato é que todos eles foram detidos sem ordem de prisao, nao tiveram direito a um tradutor durante seus processos (tem o tzeltal e o tzotzil como linguas maternas), etc.

O fato é que com essa atitude, o governo posou para a midia como flexivel, como aquele que dialoga, que é "realmente de esquerda", segundo suas proprias palavras durante a tal conferencia de imprensa. Alem disso, conseguiu tirar um pouco a força do nosso argumento em relaçao a inocencia dos presos, ja que seus processos passaram pela revisao de uma tal "mesa de conciliacao".

Diante disso, os 20 presos que foram soltos, ao inves de irem para um hospital ou para suas casas, foram direto para o plantao de familiares em frente ao palacio de governo, em Tuxtla. Acordaram entre si que se somariam ao plantao, que entao completava uma semana, ate que todos os seus companheiros fossem liberados. Iam dar uma coletiva de imprensa na terça, para reafirmar sua inocencia e a de seus compas, presos injustamente. De modo que fomos para Tuxtla acompanha-los. Muitos estavam ainda com os uniformes da prisao. Achamos que a fala deles deveria ter sido mais agressiva, mas tudo bem… Regressamos logo depois para San Cristóbal para confeccionar os tais ataúdes.

Eramos 10 mais ou menos os que se reuniram em nossa casa, durante a noite de terça, para preparar a marcha de quinta. Foi um trabalho muito prazeroso, estavamos muito confiantes na força de nossa mobilizaçao – embora entre nós só houvesse dois mexicanos envolvidos nisso. Trabalhamos de 8 da noite ate uma e meia da manha e construimos 5 caixoes e duas faixas enormes com os dizeres: "Así nos quiere el Gobierno" e "Libertad a los presos politicos en huelga de hambre".

Na quarta, eu e a Leila continuamos sozinhas a fazer mais ataúdes: construimos outros 3. Nessa mesma noite, o povo voltou a juntar-se em nossa casa e fizemos mais 4 caixoes. Total: 12 caixoes do papelao.

Na quinta, as 4 da tarde começou a marcha, que sairia da rodoviaria e iria ate o Zocalo (praça central). Qual nao foi nossa decepcao e mesmo raiva, quando nos demos conta de que eramos praticamente puros estrangeiros os que estavam na marcha! Haviamos decidido que seria muito arriscado carregarmos os caixoes, pois haviamos percebido um policiamento reforcado na cidade durante a manha desse dia – fora que nesses eventos sempre ha os X9 da vida, que ficam tirando fotos, se passando por turistas, mas sao informantes do Governo. Por isso, decidimos que apenas acompanharíamos a marcha, como se fossemos turistas curiosos. Mas, se nao havia mexicanos ali, o que fazer? Deixar que marchassem meia duzia de pessoas, com a metade dos caixoes feitos? Nao teve jeito, tivemos que nos arriscar. Era uma sensacao muito ruim, de medo e de ridiculo, porque as pessoas que passavam se perguntavam: "que é isso, manifestacao de gringos?" Que triste: um tanto de gente que passa horas nas reunioes teorizando, discursando, se fazendo de revolucionario e importantes e, na hora que o bicho vai pagar, onde estao eles???

Enfim, foi um quase-fiasco! Um quase-fiasco demasiado arriscado, reconheço! Mas, teve seus pontos positivos: primeiro que, segundo alguns, os presos e seus familiares souberam da noticia e se sentiram mais fortes ou pelo menos, que nao estao sozinhos. Segundo que foi um chamado de alerta para a "Outra Jovel" (a versao chiapaneca do, digamos, movimento zapatista civil chamado "A Outra Campanha"), para que comesse a criar uma base popular de sustentacao, se nao quiser desaparecer. E, finalmente, foi bom para que eu tenha a oportunidade de aprender com os erros e acertos o que é fazer politica no dia a dia, com todas as dificuldades que isso implica.

Na sexta, dia da ressaca da frustracao, fizemos mais uma loooonga reuniao, na qual lavamos a roupa suja e da qual, mais uma vez, nao saiu nada de concreto e impactante para ajudar na luta. A unica informacao nova, que ate entao era um rumor, era que provavelmente as familias levantariam o plantao no dia seguinte. Motivo: depois de duas semanas, estavam muito cansados e nao havia qualquer sinal de flexibilizacao do governo.

Sabado, para mudar um pouco a rotina, visitamos o Caracol zapatista de Oventic. Trata-se do caracol (ponto de encontro entre zapatistas e sociedade civil, sede das autoridades autonomas regionais) mais famoso e mais estruturado dos zapatistas. De fato, e muito lindo o lugar. Mais que lindo: e impresionante! Os caras tem uma escola autonoma de ensino fundamental, uma escola autonoma de ensino medio, uma clinica autonoma de saude, varias cooperativas de artesanato, de café, etc. Bonito ver os jovens zapatistas jogando basquete com jovens europeus! Bonito ver uma mulher, com rosto coberto por seu paliacate (lenco vermelho com o qual escondem sua identidade) ocupando o lugar de presidente da Junta de Bom Governo zapatista! Lindos sao os murais super coloridos a cobrir todas as fachadas das construcoes do lugar.

Domingo, recebemos a noticia de que os presos suspenderam a greve de fome, depois de receberem uma carta do exbispo de Chiapas, Samuel Ruiz, pedindo para que pensassem em outra estrategia para presionar o governo. E triste essa decisao porque assim o movimento perde forca, mas nao e de jeito nenhum condenavel: alguns dos presos levavam 41 dias em grevede forme!! A aposta era alta demais!! Agora e esperar a proxima reuniao, para ver quais serao os novos rumos e estrategias que vamos seguir…

Texto de Alyne Azul


terça-feira, 11 de março de 2008

Dá um tempo para viver


O tempo. É frio como meu coracao. A temperatura vai a 25 graus. Comeco a viver. Quando aumenta é sinal de renovacao, felicitudes. A “bajar” esfriam todos os sentimentos. Sábado, `as 22h, estava, sei lá, 12 grados. Mas em boa companhia tudo muda. Desta vez as emocoes afloravam-se, mesmo com o ranger dos dentes. Um bom vinho, boa música e boa “platica” nos alivia de qualquer tensao (ou frio).


“Um dia frio, um bom lugar para ler um livro e o pensamento...” nas saudades, na família, nos amigos, porém encontro um porque de estar em outro clima, outro lugar. Simplesmente para me achar. Nao ficar imaginando o meu mundinho. Pensar em igualdades e diferencas. Em novas possibilidades. Por isso prefiro o tempo desigual. Um momento estou a 36 e depois a 15 graus. Quero isso para mim! E nao fincar a estaca zero. E nao manter a temperatura ambiente o ano inteiro.


Quero modificacoes! Diversidade! Novas emocoes e moncoes! Farenheit ou Celsius! Quando a temperatura se firmar, me aborreco de novo. Tomo um café, mas já nao com o mesmo gosto. O clima diferencia o sabor. Seco, umido, tropical, inverno, outono, neblina, sol, ... . O tempo nos faz viver.

domingo, 2 de março de 2008

A complexidade da simplicidade


Como dito anteriormente, o simples é COMPLEXO!

Fidel saiu! Lula se mantém! Bush, como todo império, está chegando ao declinio! Qual será o sistema político vigente nos próximos anos? Os partidos políticos existirao? Haverá um sistema político único como o sistema único de saúde (SUS) - que nao funciona?

Há várias perguntas e nenhuma resposta. No entanto, existem formas de argumentacao, estudos e reflexao (muito complexas!) que, se nao leva a uma sistemática perfeita (o que é inviável) ajuda, e muito, ao modo de vida de algumas comunidades no mundo.

É mais ou menos o que acontece hoje no México. Em Mazatlán Villa del Flores, no Estado de Oaxaca, por exemplo, há certa autonomia que faz com que as pessoas mantenha suas tradicoes, costumes e língua desde de 1991. É um novo sonho socialista? Nao! É a forma que a assembléia popular encontrou para nao modificar sua identidade. Mas nao há intervencao do governo na comunidade? Bem! Uma das maneiras de se trabalhar e fortalecer seus “usos e costumes” é formar aliancas – as vezes com partidos políticos, as vezes com outras comunidades. Porém, sem perder o fio da história que mantém seus direitos indígenas e sua língua (mazateco).

Hoje toda decisao tomada para benefício de Mazatlán é através de uma assembléia organizada pelos moradores. Tomada as decisoes, estas sao repassadas ao governador de Oaxaca e assim, nao há intermediários. É claro que, a “autonomia” foi conquistada depois de muita luta e negociacao e que, passados 17 anos, há uma necessidade de reformulacao constante em suas “leis”, o que nao tem acontecido pois a nova geracao nao tem muito interesse pelas questoes autonômicas do Município. E ademais, o Alcalde (prefeito) nao é mazateco e nao entende – nem se esforca – as necessidades locais.

Mas há uma luz para estes indígenas-agricultores. Em marco haverá novas eleicoes e as mulheres estao fazendo reunioes para, entre outras coisas, terem candidata própria. É a nova mobilizacao nesta cadeia de montanhas que desde setembro de 2007, por questoes político-autoritárias, nao tem representante. Tanto que há meses nao há servico de limpeza nas comunidades. A autoridade local está, literalmente, um lixo.

Portanto: “legalmente” só participa das questoes políticas quem vive em Mazatlán. Se, por exemplo, um mazateco sai da comunidade para estudar ou trabalhar nas grandes cidades e volta anos depois, dificilmente vai participar de atividades políticas. O líder comunitário tem que ser mazateco. A assembléia é postulada por mazatecos. Nao pode-se chamar isso de socialismo, pois há intervencoes. Porém, este foi é o sistema de “usos e costumes” que faz com que a comunidade mantenha sua tradicao, linguagem e, principalmente, respeito.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Globalmusic



Na Ciudad de méxico a música brasileira é bastante representativa. Com o advento de novos meios de comunicacao (internet) facilitou a programacao de novos grupos e de velhas cancoes.

As rádios mais populares tocam um som mexicano muito próximo ao funk, forró e música “brega” do Brasil. Outras executam muita música internacional (EUA e Inglaterra, principalmente). As mais “culturais” tem uma programacao extensa que vai de rapper’s cubanos ao reggae panamenho.

Neste contexto as músicas de protesto (ritmos como o reggae, hip hop e rock) tem dado voz a audiëncia e isto inclui a brasileira Planta & Raiz – muito famosa entre os universitários. Porém o grande ídolo de nossas plagas no México é Roberto Carlos e suas cancoes em espanhol. É possível escutá-lo no metro (com os vendedores de mp3), nas casas, no táxi, no estádio de futebol, enfim, aqui também ele é Rei.

Além desses, Elis Regina, Jorge Benjor, Paralamas, Caetano Veloso e Mlton Nascimento estao na lista de brasileiros mais tocados. Entre os entendidos de musica (radialistas, jornalistas, músicos) há uma grande sitacao sobre movimentos musicais brasileiros como a Bossa Nova e o Tropicalismo porém, raras vezes sao executados nas rádios.

A Cumbia mexicana é o sucesso do momento (algo muito parecido com o technobrega e calipso). A música cubana também exerce forte influëncia musical e sempre é lembrada com Buena Vista Social Club e Compay Segundo. Já os grupos de comunicacao que “mandam” no México (Televisa e TV Azteca) nao cansam de mostrar grupos e “cantadores” do momento como Alejandro Sans, Mana e Aleks Syntek.

Há ainda sons fantásticos como Café Tacuba e Manu Chao na cabeca do “pueblo” e a música de “calle”. Sensacional! E rola Jazz, Rock, Cumbia, Salsa, Merengue, Ranchera, Reggae, Hip Hop, Eletrönica, Mariachi, Rumba, etc. Esta é (mais ou menos) a globalizacao da música no México.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Nao é autonomia, é respeito
















Engracado... estou no meio de uma cadeia de montanhas em Mazatlán Villa del Flores e passei toda quarta-feira (miércules) lendo e, por tabela, escutando as “rancheras” – música típica mexicana que parece o nosso ‘vaneirao’ – que os vecinos (vizinhos) tocam a toda hora, em todo lugar. Quando, de repente, escuto um Radiohead! É incrível como a música está em todo lugar! Mais espantoso é que, fazendo o mesmo processo na quinta (jueves), rola “Mais que nada”, de Benjor e, claro, as rancheras.

Aquí é uma comunidade indígena, no entanto as pessoas nao vivem em ocas. Há casas (algumas muito bonitas, outras de terra batida), há trabalho (por consequëncia, salário), há video game, há igreja, internet, problemas políticos, escolas, policiamento, etc. A comunidade nao é alienada. Estao sempre mesclando tradicao com modernidade com autonomía com respeito.

Inclusive este sábado (23.02) teve a (re) instalacao da antena da rádio comunitária Nnandia, 107.9 FM. Esta rádio há ano e meio atingia as 64 comunidades de Mazatlán, porém, por questoes políticas a antiga antena foi “cerrada” pelo PRI (Partido Revolucináro Institucional), de acordo com Melquíades, um filosofo e teólogo, que já foi Alcalde (prefeito) desta cidade entre 1993 e 1995.

A programacao da rádio é educativa mantendo a lingua indígena (mazateco) e ensinando español aos que nao sabem. Como a nova geracao nao tem feito muito para manter as tradicoes e costumes, as mulheres tem mostrado disposicao para dialogar, discutir e argumentar sobre passado, presente e futuro da comunidade formando assembléias e reunioes para este intento.

Existem maneiras e maneiras de construir uma sociedade e, ao que parece, Mazatlán Villa del Flores tem conseguido vencer barreiras e cultivar conservadorismo e modernidade num mesmo campo, com muita negociacao, luta, esforco e respeito.

Amanha tem mais sobre “respeito” em Mazatlan e música no México

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Aprender com as diferencas



Li em um folder um texto-convite para a exposicao "Polissemiose", de Almicar Packer, que já deve ter acontecido em Sao Paulo. Lembrei-me na hora de varias situacoes no México. Acompanhem:

por Carla Zaccagnini

Em espanhol, para xícara se diz taza; para taca se diz copa; para copo se diz vaso e para vaso florero (quando as flores ficam na água) ou maceta (quando plantadas na terra). Em espanhol, para sacola se diz bolsa, para bolsa se diz cartera e para cartera billetera, pois se diz billetes às notas. E notas aos bilhetes. Assim como se diz apellido ao sobrenome e sobrenombre ao apelido. Em alguns casos as diferencas se anulam: "Você encontrou a nota que deixei com o bilhete?";"Si, claro, la nota que me dejaste con el billete. Gracias".

Essas línguas, que nasceram de uma mesma fonte e passaram séculos sendo a mesma, foram aos poucos gerando as diferencas que hoje as separam. Outras comidas, outros hábitos, outras paisagens que exigiam outros nomes desembocaram em palavras novas e novos sons. E há usos que vao moldando as palavras e transformando os significados de acordo com a compreensao que delas oferece a experiência.

Um exemplo clássico é o par esquisito/exquisito. Para simplificar o processo histórico, podemos imaginar duas pessoas num mesmo banquete em que ambas provam uma mesma iguaria que jamais tinham provado antes. "Exquisito", diz o conviva de ascendência hispânica. "Esquisito?", pergunta seu colega lusitano. "Si, exquisito!"; "Hum, sim, esquisito". E ambos concordam em qualificar com a mesma palavra aquele sabor que lhes traz sencacoes tao diversas.

OBS.: "Necessitamos sair do nosso entorno para conhecê-lo melhor".

OBS2.: O conhecimento se adquire através do improviso, do desconhecido, do inimaginável.

Hai una semana


Ja hai una semana. Para conhecer toda a Ciudad do México teriamos que ficar os 4 meses aqui, mas temos que ir para outras cidades. Ainda nao decidimos que dia ir para Oaxaca ou Chiapas. Temos algumas entrevistas para fazer. Sexta passada (08.02) íamos para um bar cubano ouvir um som. Mas estava frio e preferimos ficar em casa tomando umas cervejas (Índio), mescal e comendo um tira gosto.

Sábado deveríamos ter ido a Xochimilco – a Veneza Mexicana – porém acordamos tarde e fomos ao Museu Frida Kahlo (a casa onde ela e Diego Rivera viveram). Fantástico! No entanto também estava muito frio e, de novo, para casa. Mas antes comemos em um Restaurante Chines. Nao sabia que a comida era tao boa! Demos uma volta na praca de Coyoacán (onde há uma feira com artesanato, comida, música, etc) e fomos a um bar chamado “Los Hijos del Cuervo”, ou Os Filhos do Corvo. Lá tomamos (eu e Azul) nossa primeira tequila – misturada com fresa (morango). De primeira qualidade!

No dia posterior (10.02) fomos meditar! Nem acredito! Fizemos Yoga com nuestro amigo Marianno. Tres horas de bom trato ao corpo – no outro dia dói tudo! Mas compensamos o gasto de energia com uma “comida corida” – mais ou menos uma refeicao rápida. Depois para Tasqueña (metrô próximo de casa) e...cama! Dormi com a Tixa (a cachorrinha doida).

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Diário de um mexica 6


HISTÓRIA


Por Alyne Azul


No domingo (03.02) visitamos o Zócalo sob um sol maravilloso e com o espírito de criancas admiradas e exultantes. A histórica praca, palco de muitas revolucoes, cercada de monumentos históricos coloniais, é também composta por restos do que foi o magnífico Templo Mayor de Tenochtitlán.

A imensa Catedral do séc. XVI, o Palácio Nacional e todo o centro histórico foram construídos sobre a cidade azteca, dominada em 1519 pelos conquistadores espanhóis. O próprio Hernan Cortéz, porém, ficou tao impressionado com o esplendor do Templo Mayor que decidiu preservá-lo. De fato, o Templo é uma coisa: trata-se de uma arquitetura em forma de pirâmide com 7 fases, uma construída sobre a outra.

Na 1° etapa, podemos ver a pedra retangular que servia para sacrificios humanos em oferenda a vários deuses, sobretodo Tláloc (deus da chuva e do “Intramundo” – simbolizado por conchas, caracóis e sapos) e Huitizilipóchtli (deus da guerra e, creio, do fogo). É impressionante que desta etapa ainda haja vestigio das pinturas daquela época (séc. XIII-XIV), bastante conservados em algunas esculturas…

Na parte lateral esquerda há a Casa de Las Águilas, que abrigava encontros e ritos de auto-flagelacao da elite guerreira azteca (os cavaleiros-águia), com longos bancos decorados com coloridos relevos, super bem preservados. Atrás desta, uma espécie de altar, cuja fachada foi decorada de fora a fora com duzentas e tantas caveiras, representadas distintamente em pedras.

Mais além o museu, fantástico, com várias máscaras para oferendas, conchas, caracóis e diversos artefatos vindos do litoral (o que demonstra a imensidao e o grande alcance do Imperio Azteca), caveiras e várias esculturas, estátuas e representacoes de deuses e deusas do panteao mexica.
Talvez a peca mais impresionante seja a imensa esfera de pedra representando a irma de Huitizilopóchtli, a Coyolhxauiqui, que, segundo a lenda, matou-a (mandou matá-la) cortando-a em pedazos, por ter tramado a morte da própria mae, Coatlicue, que, grávida de uma pluma – e aí temos a aprocimacao com a tradicao crista da gravidez de Maria – foi tida como traidora pela filha.

Enfim! É muito difícil descrever tudo, bem como expresar as fortes sensacoes que tivemos ao apreciar tamanho esplendor e complexidade cultural. De todo modo, após horas de descobetas maravillosas e excitantes, estávamos famintos e cansados. Fomos entao saciar as exigencias da carne (ver COMIDA).


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Diario de um mexica 4


TRANSPORTE E ESPORTE

Para nos locomover nessa cidade gigante temos várias opcoes. Nos dois primeiros dias estávamos de carro (corsa) só que há engarrafamento a qualquer hora, em qualquer lugar. Ao visitar o Zócalo fomos de ônibus (uma mistura de seletivo com velharia). Na volta pegamos o Trolbús (pertencente ao Governo, movido à eletricidade). Visitamos o Mariano (artista plástico) e, na volta para casa, fomos de metrô.

Na terca-feira (05.02) fizemos nossa primeira entrevista com um sindicalista cujo nome é Jaime Gonzales. Pegamos um táxi (um fusquinha) até a estacao do metrô e seguimos caminho para casa (Cidade Jardim próximo ao ponto final do metrô, Tasqueña). Dá para fugir do engarrafamento utilizando esses meios de transporte. Ainda bem!

No Zócalo, enquanto comíamos um Baguete e tomávamos uma cella (cerveza) observei que na televisión passava um jogo de futebol entre o Puma (time da UNAN, Universidade local) e o América. Um jogo nao muito apreciable, mas que mostra a paixao do mexicano com alguns esportes. Por ejemplo: logo depois transmitiram uma partida de Super Bowl (o futebol americano). O povo vibra com esse tipo de jogo, que para mim é igual ao béisbol: é muita regra e pouca movimentacao. Bom! Cada um com seu gosto!

Mas o principal atrativo aquí é a Luta Livre. Sim! Aquela que voltou a transmitir no SBT e que, ao que parece, é uma paixao nacional. Na terca fomos a uma apresentacao de luta. Chamá-la de esporte talvez seja exagero, mas a mistura de luta com acrobacias me lembra muito um circo. É interessante, no entanto, muito repetitivo. Sempre sao os mesmos lutadores numa espécie de BEM X MAL. Porém, para quem for a primeira vez, vai chorar de rir com as palhacadas e acrobacias desta “luta”. Os jogadores mais conhecidos sao o Atlantis (que luta do lado do “mal” e a criancada adora) e o Dr Wagner, que é do “bem” e faz a alegria dos marmanjos.

Nossas próximas tarefas serao: visitar o Museu de Antropología, o Museu Frida Kahlo e outra entrevista sobre as comunidades autônomas.

PS.: Em tempo: ontem tomamos um jugo muito bom. É uma bebida pre-hispanica, de Oaxaca, que sobreviveu há 3500 anos. É feita de milho, cacao e semente de mamão. Muito boa.

Asta pronto.

Diario de um mexica 3


COMIDA

Sinto falta da comida brasileira. Aquí tem muito chille (pimenta) e muito aguacate (abacate). No entanto tem também pizza, massa, hamburguer, etc. Por isso sobreviviremos todos! Logo que chegamos a Ciudad de México fomos a um café. Comemos Sopa Campesina (de legumes), Fondue de Huitlacoche (bolinho de queijo com uma pasta de cogumelos), Sopa de Hongos (tipo de cogumelo), Tacos de Pato (pao com pato) e Sopa de Frijol (Feijao). Mui hermoso.

Quando fomos visitar o Zocalo (Centro Histórico) comemos Baguete (sanduiche acompañado de batatas fritas). A Azul comeu uma salada que parecia um prato de peao! A procura de uma Zapoteca (biblioteca) comemos Tortas Cubanas (sanduíche cubano, se nao fosse o aguacate e o chille seria muito parecido com o brasileiros). Desayunamos una feijoada (???) na segunda de carnaval (isso que dá morar na casa de um mexico-brasileiro e uma brasileira). Só nao comemos (gracias a los Dios!) no Mc Donalds.

Nesta quarta-feira de cinzas, después de um spaghetti mariscado e talharim com cogumelos, visitamos a Catedral Metropolitana. É surreal!

Falta conhecer os guacamoles, os tacos, mole, tortillas, milho azul e preto, enfim…ainda nao comemos nada! Rsrsrs

P.S.: Neste momento a Azul está fazendo sopa de feijao. Estou escutando o cheiro daqui. Vou senar.

Asta Luego


OBS.: A planta da foto é um maguey. Poucas plantas no mundo proporcionam ao ser humano casa, comida, vestimenta e moradia. Dela também se fabrica papel. Os insetos e a casca servem de comida. Extraindo substancias da especie Agrave se faz bebidas fermentadas como tequila e mescal. Das fibras hace vestimentas. Es una planta generosa.

Diário de um mexica 2


BEBIDA

Sabe quando tomamos um chimarrao no nordeste do Brasil, achamos gostoso, mas sabemos que o gaúcho é melhor? É essa a sencasao no México. No Brasil a tequila (boa!) é palatável, no entanto na Ciudad do México é estupenda. E os amigos mexicanos avisaram que a tequila da cidade de Tequila, nas imediacoes de Guadalajara, é mil vezes melhor.

Em Vitória-ES também tive o (des) prazer de conhecer o Mescal. Foi uma experiencia dantesca (este tinha um gusano – espécie de verme). O Mescal aquí também tem um gosto diferente (e forte, sem gusano), mas tem que saber distinguir o orgânico do industrial. O orgânico quando esfregado na mao, se sente o cheiro da planta, da qual é feita a bebida. O industrial é só balancar a garrafa: se nao der bolhas, nao vale a pena (de acordo com Xoco).

¿E a cerveza? La cella? Bien! Mui bien! Existem vários tipos: escura, clara, forte, fraca, etc. Experimentei la Victoria (muito amarga), la Pacifica (mui boa), la Boemia (nao é tao gostosa quanto a nossa), la India (escura e gostosa) e la Corona (mui gostosa e tien 920 ml). Ainda tengo que experimentar outros tipos de birita. Depois descrevo os paladares.

A tequila vem después.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Diario de um mexica


Para ambientar: Mexica é o nome de um povo indígena, posterior aos aztecas, e que fundaram México-Tenochtitlan. Desecaram o Lago de Texcoco onde se encontra a atual Ciudad de México. (www.wikipedia.org/wiki/Azteca)

Um diário, um dilema. Como colocar em palavras tudo o que os olhos veem, o coracao sente, o cérebro capta? É muita coisa. Mas tentarei resumir em uma frase: a história é fascinante!

Para facilitar a leitura estou separando momentos e passagens mais relevantes de 4 dias na Ciudad de México. Vou separar os afazeres em: AMIGOS, TRANSPORTE, HISTÓRIA, MÚSICA, BEBIDAS, COMIDAS, TRABALHO, ESPORTES, etc.

AMIGOS

Chegamos ao México depois de uma longa (e cansativa) viagem. Saímos de ônibus do Espírito Santo as 15h30 do dia 31 de Janeiro de 2008 e chegamos a Sao Paulo no dia primeiro de fevereiro, as 8h. Fomos para o Aeroporto de Guarulhos e o AeroMéxico (que na verdade foi Ocean Air) partiu as 11h20. Nove horas de vôo. Que saco! Mas ainda bem que tinha música e comida boa dentro do planador. Vi, pela primeira vez, o Amazonas e alguns países da América Central (nunca saí do Brasil antes).

A Ciudad do México é algo surpreendentemente grande (e é a cidade mais populosa do mundo). Aquí há uma rica mistura de modernidade com história. Banheiroes se misturam com veículos novos da Works, Chevrolet, Porche, assim como o táxi num momento é um fusca, noutro um corsa sedan.

No entanto esta parte é para falar de amigos. Durante uns 3 meses antes da viagem Alyne Azul (minha esposa) manteve contato por e-mail com Carlos Castañeda, um médico mexicano casado com uma brasileira: a Kátia. Eu fiquei intrigado! Pensei que pudesse ser o escritor de A Erva do Diabo, já que o Castañeda dos livros também era médico.

Quando desembarcamos vimos que era um casal da nossa idade e que nos acolheu muitíssimo bem. Ao invés de irmos para casa, fomos a Coyoacán, bairro que tem uma história riquísima e próximo ao bairro universitário, onde comemos e tomamos cerveja (ver COMIDA e BEBIDA). Neste barrio fica o Museu Frida Kahlo. O español é uma lengua fácil de aprender no entanto quando se fala mui rápido é quase incomprensible. Mas nosso portunhol está dando pro gasto.

Carlos e Kátia tem um espírito gracioso e coracao enorme. Se bem que eles tem um pézinho no Brasil! Kátia morou muitos anos em Alagoas e em Sao Paulo e o Carlos já ficou bastante tempo por lá também. Temos muitas afinidades e a história e a música sao os principais assuntos em nossos bate papos. Aliás daqui a pouco contaremos um pouco da história do México para voces.

Os amigos do casal também sao fantásticos. Conhecemos o Mariano, artista plástico fascinado pela história mexicana; Dasha, uma russa que estuda Artes Visuais, ex-namorada de Mariano e uma pessoa iluminada (palavras de Azul); Francisco (Xoco - seu nome segundo o calendário azteca cujo significado nao revela a ninguém) simpatizante do Zapatismo, músico, idealista, "tranquilo" e foi a primeira pré-entrevista da Alyne ( para quem nao sabe estamos no México para pesquisar e documentar as comunidades autônomas - caracoles - de Chiapas). Como todo mexicano é vidrado em Luta Livre. Tem também o Oscar, médico, e novo morador de Cancún. Gente boníssima!


Asta Luego

sábado, 2 de fevereiro de 2008

É permitido proibir...


Diferente da música de Caetano a onda agora é proibir:

Na Franca nao se pode mais fumar em bares e restaurantes...

No Brasil nao pode mais beber...

No carnaval do Rio, carro alegórico nao pode desfilar, contar histórias...

Nunca pense em usar drogas...

Nem contar mentiras para a esposa...

E respirar? Pode?

Daqui a pouco macaco nao come mais banana...

No congresso deveria ser PROIBIDO promulgar leis para poucos. Aliás, o congresso me lembra um puteiro que, de acordo com a lei, é proibido...

O Souza do Flamengo deveria ser proibido de jogar futebol...

As revistas de fofoca poderiam ser censuradas. Proibidas de escrever asneiras...

O Rodrigo Rosa tem que ser proibido de fazer eventos no Espírito Santo...

O sentido de proibir é subjetivo e quando vira lei, mesmo que nao funcione, tira a liberdade do cidadao. Mais do que proibir, a pratica de ler, pensar, refletir, conscientizar vale muito mais do que qualquer LEI.

Aqui no México ainda nao me foi imposta uma proibicao. Mas já sei que nunca é bom falar mal do Calderon...

Dignidade, democracia e justica...

Etica e moral...

EDUCACAO é melhor do que proibicao.

Obs.: aqui no México o teclado nao tem til(~) e cedilha. rsrsrs

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Me voi!


Olá, pessoal! Como tem passado? Desde dezembro não escrevo, pois estou na correria (para variar). Bem! Como alguns já sabem estou indo para o México esta quinta-feira (31.01) para passar longas férias (quatro meses para ser mais exato). Lá vou fazer um documentário sobre a cultura local e pretendo conhecer várias cidades. A começar pela mais populosa do mundo: Cidade do México. Mas também vou conhecer Puebla, Veracruz, Oaxaca, Villahermosa e tantas outras. Acho que será uma boa experiência para mim e minha esposa. Aviso aos navegantes que estarei informando cada detalhe de minha passagem por lá. Então a partir do próximo fim de semana podem acessar o blog que terá notícias fresquinhas sobre os hermanos. Asta la vista.