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segunda-feira, 12 de maio de 2008

Brigada 64 - Parte II




…mais um banho de rio. Mais classes de capoeira. Desta vez sabíamos que iríamos à outra comunidade e sem as “redilas” – transporte que nos levou a San Manoel, e que são como caminhonetes. Fomos caminhando para Benito Juarez. De acordo com o comppa Moises em um “ratito” estaríamos lá. Eu sempre desconfio dos “ratos” zapatistas onde meia-hora podem ser hora e meia. Foi o que se sucedeu. Caminhamos com nossas pesadas mochilas por 1h30 ate Benito, que também esta localizado no município de San Manuel.

Chegamos às 5 da tarde (hora de Deus, pois no México estamos em horário de verão). Mortos!!! Muito cansados!!! As mulheres tem uma disposição enorme, por que antes de descansarmos fomos direto a cozinha preparar a “cena” (jantar). Uma espécie de churrasqueira a lenha foi o bastante para fazermos arroz, cenouras e sardinhas. Agora sim! O bendito descanso! Para não dormirmos no chão colocamos tabuas de madeira sobre as mesas e bancos que haviam na escola (estávamos instalados na escola da comunidade). Em San Manuel nos instalaram na igreja.

Uma noite mal dormida com bois e touros batendo na porta e mosquitos, carrapatos e pulgas nos mantedo acordados. Levantamos as seis, pois às 8h ha aulas. Rearrumamos a escola e fomos tomar cafe. Mais tarde o comppa Belisario levou a mim e as danesas a um rio. Pra variar ele disse que o rio estava “cerca”, ou seja, perto. Caminhamos quase meia-hora e chegamos às margens de um rio sujo e vazio. Mas valeu a pena. Pegamos umas mangas verdes e comemos com sal.

Benito Juarez è muito pobre, quase não ha água e a unica mangueira disponivel fica aberta todo o dia (um desperdício!). As crianças não brincam muito pois, depois das aulas, tem que ajudar suas mães a abastecer suas casas com água. Passamos o resto da quarta-feira aguardando o responsavel que se chama Gerardo. As chicas estavam um pouco impacientes e eu já acostumado com o “tempo” zapatista. Por falar nisso, acredito que eles não dividem seu tempo em horas e sim, em momentos. Por exemplo: manha, tarde, noite. Então, quando dizem “ahorita”, “un ratito” ou “asi es” podem ser meia-hora ou cinco horas.

Asi fue! As 5h30 da tarde veio o comppa Gerardo com seu “tocaio” (xará) e “empezamos” a entrevista. As 6h30 estava tudo “listo” (pronto). Voltamos então ao tempo zapatista. Comemos arroz, cenouras, cebolas e atum e de sobremesa banana da terra assada. Ah! Havia tortillas com “frijol” também. Um jantar dos deuses. Tortilla è como uma massa de pastel feita de milho. È como o pão que comemos todos os dias, no entanto os mexicanos comem isso em todas as refeições. È um vicio! Tortillas e chille!

Esta noite descansamos bem e recebemos a noticia de que vamos a outra comunidade na quinta. Patria Nueva, se chama. “A mi me gusta” estar nestas comunidades zapatistas. Adquirir novas experiências. Os indígenas tem seu próprio tempo, língua, cultura e não querem perder suas terras, suas dignidade e liberdade. Querem apenas viver a sua maneira. Não è fácil explicar isso pra quem tem pensamentos ocidentais como nòs. Temos que ver, aprender e usufruir da maneira indígena zapatista de ser.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Brigada 64 - PARTE I



Sábado (19.04). Dormi as 3 para acordar as 4h30. Fomos para Ocosingo e de lá, para La Garrucha. As 6 da manha o sol estava belíssimo. Uma cor alaranjada entre neblina e nuvens. Indescritível. Chegamos ao Caracol IV por volta das 11h e, pra variar, esperamos até domingo para obter uma carta da Junto de Buen Gobierno para irmos a alguma comunidade. Como sempre, nessas horas, nao há muito o que fazer. Ler, dormir, conversar, fumar e dormir.

Para explicar melhor: eu, acompanhado de 5 mulheres, fui a uma brigada (a de número 64) reportar e informar ao Centro de Análisis Político e Investigaciones Sociales y Económicas CAPISE como estao as comunidades zapatistas, se esta havendo ameaças ou desalojo por parte de grupos paramilitares ligados a política local. O Caracol IV, de La Garrucha, mantem a Junta de Buen Gobierno que nos dá as coordenadas de qual comunidades devemos visitar.

Achei que seria chato passar tanto tempo com tantas mulheres no entanto, elas se mostraram muito solidárias e fortes (o que e imprescindível em comunidades). Eram elas: Alyne (minha esposa), Beatriz (de Espanha), Karla (de El Salvador), Zara e Laura (de Dinamarca). No Caracol ainda conheci Suli, uma espanhola que convive com os zapatistas há 3 anos. Tem uma cafeteria no local e fala Tzeltal, a lingua dos indígenas desta regiao.

Domingo, depois de algumas horas, os compas (companheiros) da junta nos enviaram a San Juan del Rio ou, como e conhecido agora, San Manoel. Nesta comunidade nos receberam bem, mas a impressao que tive e de que nao necessitavam de brigadistas neste momento. Um dia tranquilo com aulas de capoeira para os jovens indigenas, um banho no rio e uma partida de futebol. Há um mes as pessoas deste povoado assistiu a um video sobre capoeira e a todos os brasileiros que vem para ca, pedem para fazer “classes” deste esporte. Tambem sempre cantam: “Paranaue, paranaeue, Parana”. Ao entardecer fizemos a entrevista com a Assembleia da comunidade.

Nos contaram dos acontecimentos da última semana e no outro dia acompanhamos cerca de 150 homens que foram limpar 72 hectares de terra (foto).

Esta é a primeira de cinco partes.

Hasta luego.